quinta-feira, 1 de julho de 2010

Mídias na Educação: convergência das mídias

Resenha
Convergência entre mídia e cultura popular
Convergence between media and popular culture
Cristóvão Domingos Almeida
cristovaoalmeida@gmail.com
Antonio Iraildo Alves de Brito
irabrito@hotmail.com
MELO, J.M. de. 2008. Mídia e cultura popular: história, taxionomia e metodologia da folkcomunicação. São Paulo, Paulus, 235 p.
Muitos apocalípticos (Eco, 2004) preconizaram que a cultura popular, os costumes e as tradições do povo desapareceriam para sempre com o processo de mundiali¬zação, sobretudo com as influências dos meios de comu¬nicação massivos. A principal culpada desse arraso total seria, sem dúvida, a televisão. Alguns integrados também entraram neste jogo, porém como pretensos “salvadores da pátria”, num estado de vigilância extrema a fim de evitar a ocorrência dos danos anunciados. No entanto, parece ter ocorrido o inesperado: em vez de enfraqueci¬mento ou sumiço, a cultura popular se mantém fortalecida e cada vez mais atuante, não obstante as influências dos poderosos instrumentos de comunicação.
Essas influências, para muitos teóricos, seriam justa¬mente as causadoras da derrocada geral da cultura popular. Isso é dito como se os pertencentes a essa cultura fossem consumidores totalmente passivos ante as mensagens re¬cebidas da grande mídia ou hegemonia comunicacional. O fato é que mais uma vez o tiro sai pela culatra: este “mundo marginal” não somente recebe, mas interpreta as mensagens transmitidas pelos meios de comunicação, contradizendo a tão arraigada idéia da onipotência midiática.
É nesse sentido que entra em cena o mais novo livro do professor emérito da Universidade de São Paulo, pes¬quisador da Rede Folkcomunicação e diretor da Cátedra Unesco-Umesp de Comunicação para o Desenvolvimen¬to Regional, José Marques de Melo. Nesta obra, o autor apresenta e discute a teoria da folkcomunicação como expressão e resistência cultural das classes subalternas ou dos grupos marginalizados, bem como a integração ou o intercâmbio entre essas e os meios de comunicação massivos.
Conhecedor que é, e um dos mais renomados pesqui¬sadores e agentes do pensamento sobre a comunicação no Brasil, Marques de Melo (2008) destaca, neste traba¬lho, a importância da folkcomunicação como disciplina acadêmica e horizonte aberto para novos pesquisadores interessados neste campo. Campo esse que confere espaço de expressão às minorias marginalizadas pela hegemonia comunicacional.
O livro está dividido em 10 capítulos, nos quais o autor reúne, de forma sistemática, o conjunto de seus textos escritos nos últimos 40 anos sobre o assunto folkco¬municação. No centro da abordagem, está justamente a consideração do legado de Luiz Beltrão, o fundador da disciplina.
Marques de Melo dá a conhecer o embrião que originou a teoria beltroniana. A saber, trata-se de um
ensaio monográfico intitulado “O ex-voto como veículo jornalístico” publicado em 1965 (Beltrão, 1965). A tese era de que as esculturas, objetos, desenhos e fotografias depositados pelos devotos nas igrejas possuíam nítida intenção informativa. Eram peças que ultrapassavam o mero acerto de contas mágicas, veiculando jornalistica¬mente o potencial milagreiro dos santos protetores.
Dois anos depois, portanto em 1967, Beltrão apro¬funda sua originalidade em tese de doutoramento pela Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília, intitulada Folkcomunicação: um estudo dos agentes e dos meios populares de informação de fatos e expressão de idéias. Com esse estudo, Beltrão foi outorgado com o primeiro grau de doutor em comunicação conseguido em universidade brasileira. Nascia aí uma teoria com estreita relação entre folclore e comunicação popular, a folkcomunicação.
Os dez capítulos de Mídia e cultura popular sintetizam o progresso dessa teoria e a adesão de fiéis discípulos ao legado e pioneirismo de Luiz Beltrão. Nesse sentido vale mencionar a importância da Rede Folkcomunicação, que, desde 1998, reúne-se anualmente em conferências pelo país. A andarilhagem (Freire, 2006) das conferên¬cias acalora os debates sobre os impasses teóricos e os desafios metodológicos da folkcomunicação, surgindo impulso para novas aprendizagens.
Marques de Melo, de forma didática e clássica, define os principais objetos de estudos da disciplina e mapeia alternativas metodológicas testadas e validadas, propon¬do caminhos para pesquisadores iniciantes. Há inclusive no capítulo 6 uma amostra de um estudo empírico da presença da folkcomunicação na internet, as Evidências Ciberespaciais. Isso mostra a sobrevivência de gêneros ou formatos da expressão popular no mundo virtual, in¬teragindo e ocupando espaço, e mais que isso, ampliando seu raio de alcance, mundializando-se sem, no entanto, perder o caráter local.
De forma proposital, o autor repete assuntos na se¬qüência de capítulos. Ele mesmo explica este artifício metodológico no prefácio: “como se trata de um calei¬doscópio, estruturado a partir de anotações que venho fazendo há vários anos, foi inevitável a repetição de fatos ou a reiteração de argumentos que se encontram explícitos nos capítulos introdutórios, mas voltam a apa¬recer mais adiante” (Melo, 2008, p. 15). Essa estratégia não é, de modo algum, cansativa, pois o que é repetido é inserido em abordagens sobre folkcomunicação em assuntos diferentes. Desse modo, vez e outra, ele se remete evidentemente ao criador da teoria com breve relato biográfico, bem como ao processo de difusão, le¬gitimação, desafios e outras informações que se encaixam nas explanações semelhantes.
Interessantíssima a cronologia factual no capítulo 8. O autor documenta a trajetória da folkcomunicação, ofere¬cendo ao leitor e à leitora o acesso a uma vasta produção acadêmica na área, com seus respectivos autores e ano das publicações. Este capítulo, sem dúvida, constitui-se num dos mais ricos da obra, especialmente pensando em quem inicia uma pesquisa neste campo e necessita de material para construir seu aporte teórico.
Dentre outros méritos da obra, merece relevo o fato de o autor reunir num único volume o conhecimento já acumulado a respeito desta teoria. Ela funciona, por assim dizer, como um verdadeiro manual de consulta indispensável para quem queira empreitar pesquisa na área. Nela é possível encontrar desde a embrionária idéia de Beltrão, sua evolução, acolhida e difusão, bem como as possibilidades várias que a folkcomunicação oferece como teoria de pesquisa na relação entre cultura popular e mídia, inclusive no ciberespaço.
Mídia e cultura popular coloca a folkcomunicação em nossas mãos, numa linguagem leve. É ciência sem entrave vocabular. Está aí um ótimo e indispensável subsídio para os estudantes de comunicação e todos os que queiram se aventurar no universo desta disciplina. Num país como o nosso, em que os meios de comunica¬ção ainda estão controlados por meia dúzia de famílias, urge que proliferem estudos que busquem entender os processos de intercâmbios e sobrevivência das culturas marginalizadas, conferindo-lhes o direito à voz.
Referências
BELTRÃO, L. 1965. O ex-voto como veículo jornalístico. Comuni¬cação & Problemas, 1:9-15.
BELTRÃO, L. 1967. Folkcomunicação: um estudo dos agentes e dos meios populares de informação de fatos e expressão de idéias. Brasília, DF. Tese de doutorado. Universidade de Brasília - UnB.
ECO, U. 2004. Apocalípticos e integrados. São Paulo, Perspectiva, p. 325.
FREIRE, P. 2006. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 48ª ed., São Paulo, Cortez, p. 87.
Submetido em: 11/06/2008
Aceito em: 30/06/2008
Cristóvão Domingos de Almeida
Unisinos
Av. Unisinos, 950, 93022-000, São Leopoldo, RS, Brasil.
Antonio Iraildo Alves de Brito
UCS
Rua Francisco Getúlio Vargas, 1130,
95070-560, Caxias do Sul, RS, Brasil.

Disponível em: www.unisinos.br/.../pdfs_educacao/.../243a244_rs01_almeida.pdf. Acesso em 07/07/2010
Por: Andressa Brum Vieira

2 comentários:

  1. Obrigada, Andressa pelo conhecimento fornecido por seu texto. Aliás, todos os textos nos fizeram refletir e crescer mais e mais.
    SUCESSO E PARABÉNS!!!!

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  2. Obrigada pela contribuição que os textos deste blog nos deram. Com certeza nos ajudaram muito na compreensão do uso e da importância da internet em nossas vidas.
    Parabéns!
    Rosemere Rebolo

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