quinta-feira, 11 de novembro de 2010

"O REFLEXO DO HOMEM PRIMITIVO AO HOMEM CONTEMPORÂNEO"

“O reflexo do homem primitivo ao homem contemporâneo”

Terezinha Cordeiro Barbirato
UFES – Universidade Federal do Espírito Santo



ABSTRACT


This paper aims to contribute to studies of the course on Philosophy and Psychoanalysis in the discipline Freud as a theorist of modernity locked, offered by NEAAD / UFES in blended mode in order to qualify for exercising professional research and education in line Search for "Philosophy and Psychoanalysis'.


RESUMO
O presente trabalho pretende contribuir com os estudos do curso de especialização Filosofia e Psicanálise na disciplina Freud como teórico da modernidade bloqueada, ofertado pelo NEAAD/UFES, na modalidade semipresencial com o objetivo de qualificar profissionais para exercerem a atividade de pesquisa e ensino na linha de pesquisa de 'Filosofia e Psicanálise'.


Iniciando os instintos primitivos


Para Freud, os seres humanos são dotados de frustrações, angústias, decepções e sentimentos reprimidos, baseando-se em sua teoria nos comportamentos desses seres. Segundo Freud, o homem busca lidar com esses sentimentos, mostrando-se normal, interiorizando seus fracassos, decepções etc. Ele estabelece em sua teoria, pilares importantíssimos: o inconsciente controla a consciência com maior intensidade do que esta o controla, o surgimento do inconsciente vem antes do ego – experiência consciente, e estabelece a estrutura da vida psíquica, os conflitos inconscientes manifestam-se na consciência disfarçados de sonhos, atos falhos ou neuroses, o ego ignora os determinantes inconscientes da experiência e da ação, experimenta a si próprio como origem de seus desejos e pensamentos, tornando-se causador das próprias ações. As interações desses pilares determinarão os comportamentos apresentáveis na vida social, quando não há a integração, o homem mostra-se, como se fosse doente, incapaz de controlar suas fraquezas.
A vida social, partindo do pressuposto: caminhar para a modernidade, Freud distinguiu três dimensões de mundo: a animista – o homem projeta interesses, desejos e crenças na onipotência do pensamento, que pode tudo, a religiosa – é determinada no momento da ruptura entre o homem e a natureza, surge uma situação total de desamparo, ausência de sentido existencial e a dimensão científica – o homem assume o seu desamparo, oracional surge como realização. Mas, a modernidade ainda está bloqueada, enquanto modernização, a sociedade não estava preparada, por diversos problemas sociais, que o homem enfrenta.
Freud em sua obra Totem e tabu e outros trabalhos VOLUME XIII (1913-1914) inicia seu texto mencionando e comparando o homem pré-histórico com o homem moderno ou pós-moderno “O homem pré-histórico, nas várias etapas de seu desenvolvimento, nos é conhecido através dos monumentos e implementos inanimados que restaram dele, através das informações sobre sua arte, religião e atitude para com a vida — que nos chegaram diretamente ou por meio de tradição transmitida pelas lendas, mitos e contos de fadas —, e através das relíquias de seu modo de pensar que sobrevivem em nossas maneiras e costumes. À parte disso, porém, num certo sentido, ele ainda é nosso contemporâneo.”


A complexidade do homem contemporâneo


“Morin (1977) convida-nos a pensar a complexidade desse tempo e confere-lhe uma característica nova: é necessário juntar, ligar o que esteve disjunto e fazer uma leitura multidimensional para analisar os contextos das complexas realidades.” Como afirma TRISTÃO, 2006. É nessa perspectiva que os estudos da psicanálise despontam como essencial e necessário para os dias atuais.
Temos diariamente nos noticiários manchetes de abusos sexuais com menores de idades, ou até mesmo incestos, que como Freud enfatiza acima, na pré-história isso era considerado normal, uma vez que o homem era considerado um animal, e que animais possuem desejos sexuais com o sexo oposto ou não. Porém no decorrer da evolução humana, o homem através da religião e da vontade de viver em sociedade foi se permitindo regras impostas pelo poder, o clero e a burguesia, não permitindo expressar seus instintos animais, e se o fizesse seria punido, pois o abuso sexual e o incesto é considerado crime, e o infrator é preso, dependendo do país e da sua legislação é condenado a pena de morte.
Freud tinha consciência que com essa tese defendida por ele na psicanálise, provocaria sérios problemas nas crenças ocidentais. Pois foi um dos primeiros a denunciar a pedofilia e seus reflexos no desenvolvimento do ser humano. Após essa análise dos danos que o abuso sexual causa na vida de uma pessoa, ficou afirmado que abuso sexual decorre da teoria freudiana, e que quando a criança molestada é a precursora do adulto neurótico e infeliz, e que ao crescer será o reflexo do que recebeu, sendo também um predador sexual. E o pedófilo não é mais uma pessoa que possui atração ou afinidade patológica, ele é o que arruína as perspectivas de vida de uma criança, não permitindo que essa sonhe com os mais belos contos de fadas, pois a criança abusada, não quer brincar, pois quer ficar sozinha ou ir ao encontro do abusador, pois sua sexualidade foi aguçada e instintamante precisa desse contato, que ao mesmo tempo se torna incosciente.
Além das manchetes esses temas complexos invadem nossa casa através das várias formas de comunicação, exemplificando a novela global das 21:00h, pois é a mais assistida que vem apresentando o tema de abuso sexual que mostra o personagem Gerson, segundo filho de Bete e famoso campeão de corridas Stock Car, carrega um mistério que envolve uma estranha fixação pelo computador. Disputou o amor de Diana com Mauro, que era seu melhor amigo. Acabou se casando com a jornalista, que se arrependeu da escolha e o abandonou, principalmente depois que descobriu o segredo do marido (GLOBO, 28/10). Pois a cena está sendo demonstrada da forma que acontece na realidade com os abusos sexuais, de uma maneira que a pessoa que foi abusada se sente culpado por ter sido agredido, é uma transposição da culpa, pois o abusador não se sente culpado e sim satisfeito por realizar seu desejo que internamente lhe atormentava e quando põe em prática o abuso sexual ou algo que o recorde essa ação, sente-se aliviado e ao mesmo tempo cria-se um desejo de obter mais prazer ao repetir esse ato.
Westermarck (1906-8 2, 368) explicou o horror ao incesto baseando-se em que ‘há uma aversão inata às relações sexuais entre pessoas que vivem juntas com muita intimidade desde a infância e que, como essas pessoas são, na maioria dos casos, aparentadas pelo sangue, esse sentimento naturalmente apareceria no costume e na lei como um horror à relação sexual entre parentes próximos’. Havelock Ellis [1914, 205 e seg.], embora discutisse a instintividade da aversão, endossou em geral esta explicação: ‘A falha normal da manifestação do instinto de acasalamento no caso de irmãos e irmãs ou de meninos e meninas criados juntos desde a infância é um fenômeno meramente negativo, devido à ausência inevitável, nessas circunstâncias, das condições que evocam o instinto de acasalamento (…) Entre aqueles que foram criados juntos desde a infância, todos os estímulos sensoriais da visão, audição e tato foram amortecidos pelo uso, levados ao nível calmo da afeição e privados de sua potência de despertar a excitação eretística que produz a tumescência sexual.’ (FREUD, 1999), continuando a contextualização, entende-se que com a civilização os homens impuseram as leis as quais reprimem os instintos naturais dos homens, e se as leis reprimem esses instintos, observa-se que esses instintos não seriam apropriados ou benéficos à sociedade.
“Posso acrescentar a estes excelentes argumentos de Frazer que as descobertas da psicanálise torna a hipótese de uma aversão inata à relação sexual incestuosa totalmente insustentável. Demonstram, pelo contrário, que as mais precoces excitações sexuais dos seres humanos muito novos são invariavelmente de caráter incestuoso e que tais impulsos, quando reprimidos, desempenham um papel que pode ser seguramente considerado — sem que isso implique uma superestima — como forças motivadoras de neuroses, na vida posterior.” (FREUD, 1999)
Vários teóricos discutem sobre as precoces excitações sexuais, porém o que se tem mais consisto para evitar tais abusos, é o tratamento psicanalítico e terapêutico dessa dependência psíquica que o indivíduo possui, pois como nos é apresentado na novela, o personagem do Gerson sente prazer em ver cenas de abusos sexuais, porém não praticou nenhum abuso, e antes que pudesse colocar em prática, buscou o tratamento e o faz gradativamente, pois como uma doença essa dependência também deve ser trabalhada continuamente, acredita-se que é um tratamento por um longo período ou pela vida toda.








Referências Bibliográficas

Freud, Sigmund – Totem e tabu. São Paulo. Imago, 1999.

Freud, Sigmund – O futuro de uma ilusão. São Paulo. Imago, 2006.

Freud, Sigmund – Moisés e o monoteísmo. São Paulo. Imago, 2006.

Gay, Peter – Freud. Uma vida para o nosso tempo, São Paulo: Cia das Letras, 1989.

Lee, R.S. – Freud and Christianity. Londres: Penguin Books, 1967.

Um comentário:

  1. Parabéns pelo artigo e por sua determinação em querer sempre mais. Estou muito orgulhosa de poder contribuir com sua aprendizagem , quando muito do que sou devo a você por um dia ter sido sua aluna e continuar aprendendo a aprender em sua companhia.
    Att.
    Adriana Paula

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