ESCOLA, FAMILIA E POLITICAS PUBLICAS: “A UNIÃO NECESSÁRIA PARA UMA EDUCAÇÃO EFETIVA.”
Fabio Pereira Xavier
Estudante do curso de Especialização
em Filosofia e Psicanálise pela
Universidade Federal do Espírito Santo.
RESUMO: artigo em questão buscou evidenciar questões sociais que interferem diretamente no desenvolvimento intelectual dos alunos, para isso foi analisada a situação social em que os mesmos se encontram, o tipo de educação domiciliar que eles são submetidos, o comportamentos dos estudantes em sala de aula, as notas no primeiro e segundo trimestre,depoimentos de professores da turma, analise de dados estatístico sobre o rendimento da escola a nível estadual, relatos de pedagogos, coordenador e Diretor da escolas. Esta análise foi direcionada em paralelo com a observação de textos de Sigmund Freud e do Professor Doutor Vladimir Safatle que deu suporte teórico para a realização deste estudo.
Palavras-chave:risco social; educação; olhar diferenciado; baixo rendimento; indisciplina; abandono intelectual.
Abstract- the article in question sought to highlight social issues that directly affect the intellectual development of our students, it was analyzed the social situation in which they are located, the type of home schooling that they are submitted, the behavior of students in the classroom, the notes on the first and second quarter, reports from class teachers, analysis of statistical data on income from school at the state level, reports of teachers, coordinator and director of schools.
this analysis was directed in parallel with the observation of texts by Sigmund Freud and professor Vladimir Safatle which gave theoretical support for this study.
Key-words: social risk, different look, low income, indiscipline, intellectual abandonment
O estudo em tela busca analisar comportamentos apontados como fora do padrão esperado para integrarem à 5ª série do Ensino Fundamental de uma escola da rede estadual de ensino, localizada no município de Presidente Kennedy.
Os alunos analisados são matriculados na série supracitada, lembrando que essa turma é a única em que os professores não conseguem de maneira nenhuma encontrar uma solução para resolver o caos que se instalou.
Dificuldade de aprendizagem, comportamento ultra-agressivo, extrapolação de todos os limites, excesso de falta de atenção, falta de educação e civilização. Todos esses fatores somados vêm dificultando o ensino-aprendizagem uma vez que, falta concentração e os educadores já não sabem mais a quem recorrer.
A família omissa e desestruturada passou toda responsabilidade para a escola que por conseguinte repassou ao Conselho Tutelar, que também transferiu ao Ministério Público, fazendo várias denúncias inclusive maus tratos, prostituição infantil entre outros agravantes.
Por outro lado, o município também lavou as mãos, uma vez que, não tem nenhum programa social que venha de encontro a buscar medidas sócio-educativas como uma vertente a diminuir o problema, principalmente dessa clientela economicamente desfavorecida.
Sabe-se que, enquanto nada de concreto é feito o problema explode na escola e os índices de aprendizagem marcam à trajetória do educandário como o último, realizado em 2009, colocando a escola em último lugar no Estado do Espírito Santo.(fonte SEDU.ES)
Segundo alguns professores que não sabem mais o que fazer para minimizar o caos, encaminhar os alunos à coordenação da escola para assinarem ocorrência e solicitar a presença dos pais não significa mais nada perto da situação que chegou ao limite.
A ocorrência não significa medida pedagógica para eles, uma vez que, seus pais não comparecem à escola e muitos acabam passando a mão na cabeça, quando não dão razão.
Uma das professoras, a Língua Portuguesa acreditava que levar aulas mais dinâmicas e elevar a auto-estima dos alunos poderia servir como modelo a proporcionar aos educandos mais interesse nas aulas, no entanto, a professora disse que não resolveu e aponta outras medidas como: a presença de um responsável todos os dias em sala de aula, bem como a do Conselho Tutelar, do Ministério Público e palestras com diversas autoridades.
A professora acredita que os pais devem ser responsabilizados e penalizados uma vez que seus filhos não respeitam mais nenhuma regra na escola.
Na perspectiva de encontrar soluções que apontem medidas à serem tomadas com a turma, o estudo que segue está embasado nas teorias do pai da psicanálise - Sigmund Freud - que defende a Psicologia das massas e em textos do professor doutor Vladimir Safatle, nos quais o mesmo aponta algumas sugestões em casos como os supracitados.
Os textos que calçam este estudo foram de fundamental importância possibilitando entender que comportamentos diferentes podem estar relacionados à fatores sociais, que se forem discutidos e trabalhados de maneira séria e correta, podem refletir numa considerável mudança comportamental desses indivíduos em questão.
Vale ressaltar, que a falta de comprometimentos dos pais dos alunos em comparecer à escola para busca de solução junto à equipe pedagógica foi o ponto chave para investigação sobre as características dessa população em especial.
A psicanálise busca compreender comportamentos diversos e Freud, em especial, dedicou parte dos seus estudos a esse tema.
De acordo com o Freud, a psicanálise não deve servir apenas para curar doenças mentais. Em suas teorias, ele destaca ainda o fator patológico, pois defende a tese de que, é a partir de então que se compara o que seria o “normal” ou o que se adequou aos padrões exigidos pela sociedade.
O pai da psicanálise ressalta ainda, que a conduta patológica expõe o que está realmente em jogo no processo de formação das condutas sociais, e então ele faz a comparação quando diz que:
“se atirarmos no chão um cristal, ele se parte, mas não arbitrariamente. Ele se parte, segundo suas linhas de clivagem, em pedaços cujos limites, embora fossem invisíveis, estavam determinados pela estrutura do cristal.”
Pode-se notar então que, durante o desenvolvimento de cada indivíduo, ele vai sofrendo algumas marcas em seu processo de adequação aos padrões impostos pela sociedade. Freud esclarece também que o ser humano se torna neurótico por não poder suportar as frustrações impostas pela sociedade com seus ideais culturais.
Pode-se compreender a partir das teorias freudianas que dificilmente haverá um ser humano que não sofra nenhum sintoma psíquico, porém não se pode dizer que não há distinção entre o normal e o patológico. O psicanalista explica que existe uma diferença qualitativa fundamental entre o normal e o patológico.
Partindo do pressuposto de que cada indivíduo possui suas próprias marcas e que estas podem refletir diretamente no comportamento atual do aluno, foi feita uma análise mais direcionada sobre a situação social em que estão inseridos estes, e do acompanhamento dos responsáveis no que diz respeito à educação familiar desses indivíduos.
Não esta sendo afirmando aqui, que foi feita uma pesquisa minuciosa sobre a vida de todos que cercam alguns destes alunos considerados problemas, até porque não se sabe se há condições reais para isso, pois não é fácil adentrar na intimidade de pessoas que sofreram tantas marcas de uma sociedade injusta para com eles,pois grande parte destes, residem num lugar sem estrutura,são beneficiados por programas sociais como bolsas e cestas básicas que os acostumaram a se adequarem a essa situação, o Município é omisso, pois não possui programas sociais que interfira diretamente na situação destes indivíduos, e o Ministério Publico nada faz com relação a isso. O que foi feito aqui, foi uma observação dos comportamentos ,da situação social em que eles se encontram, do rendimento escolar, da questão disciplinar, da relação com os demais professores , coordenadores pedagogos e diretor da escola.
Dentro do educandario, foram colhidos dados importantíssimos para este estudo, foi percebido que a maioria dos professores tratava estes alunos com indiferença, estava preocupada apenas em transferir o conteúdo para sem se importar se realmente os educandos estavam aprendendo algo.
O pedagógico e o administrativo da escola até tentavam sanar o problema, mas se viam de mãos atadas, pois não sabiam o que realmente fazer nesta situação, até porque todos sabiam que estes problemas iam para além dos portões da escola e dentro da instiuição não tinham os profissionais, nem tampouco recursos necessários para se fazer um trabalho realmente efetivo para a melhoria da situação – índices baixos de aprendizagem.
Após conversa individual com alguns destes alunos, foi percebido que eles, apesar de possuírem idade tão pequena, demonstravam um certo grau de maturidade, certamente advindo das varias experiências pelas quais haviam passado, e que estes apresentavam comportamento bem diferente do que tinham quando estavam em grupo dentro da sala de aula, ou pelos demais ambientes da escola. Esse tipo de comportamento também é explicado por Lê Bom citado por Freud em seu texto Psicologia das massas e analise do eu quando diz::
“A peculiaridade mais notável apresentada por um grupo psicológico é a seguinte: sejam quem forem os indivíduos que o compõem, por semelhantes ou dessemelhantes que sejam seu modo de vida, suas ocupações, seu caráter ou sua inteligência, o fato de haverem sido transformados num grupo coloca-os na posse de uma espécie de mente coletiva que os faz sentir, pensar e agir de maneira muito diferente daquela pela qual cada membro dele, tomado individualmente, sentiria, pensaria e agiria, caso se encontrasse em estado de isolamento.”
Sendo assim, podemos notar que estes alunos, além de serem influenciados pelo meio social,também sofrem influencia direta do grupo do qual fazem parte, pois como já foi citado acima, grande parte da turma se encontra em risco social. Foi notado também que até os pouquíssimos alunos que não viviam nesta condição, quando se agrupavam em sala, manifestavam comportamentos hostis, o que tornava ainda mais complicada a situação.
Apesar de estes indivíduos apresentarem comportamentos estranhos aos que seriam de sua idade, quando eram vistos com um olhar mais humano, eles acabavam demonstrando, ainda que em pequena quantidade, um carinho e respeito para quem lhes tratassem assim. E quando eram submetidos a conversas em particular, e toda sua situação era respeitada e levada em consideração, eles acabavam externando, ainda de forma bem subjetiva, as terríveis situações pelas quais passaram e que ainda passam. Esta volta ao passado que é entendida por freud como regressão,se é que podemos dizer assim, às vezes pode ser muito dolorosa; porém, quando feita por um profissional da área das ciências psicológicas, pode até não trazer a mudança imediata para estas pessoas, mas resultam em dados importantíssimas sobre as situações de cada um, ou do próprio grupo social do qual fazem parte. Essas informações deveriam servir como medidor social para os órgão responsáveis começarem a intervir de forma direta, de maneira individual e coletiva sobre estas crianças.
Não podemos dizer que esta será uma tarefa fácil, pelo contrario, é necessário que haja uma união de forças da escola como um todo, dos serviços sociais municipais, do Ministério Publico e do Conselho Tutelar. A escola apontando e acompanhando o problema no seu ambiente, os Serviços Sociais acompanhando as famílias , o Conselho Tutelar em pareceria com a escola acompanhando pais e alunos no que diz respeito a direitos e deveres de cada um e o Ministério Publico, cobrando dos demais órgãos eficiência nas funções que lhes são cabíveis. Se todos os órgãos responsáveis cumprissem com suas reais atribuições, não só os alunos desta escola seriam beneficiados, como também partiríamos para uma melhoria significativa na educação de maneira geral.
Referencias Bibliográficas:
SAFATLE, Vladimir.Freud como teórico da modernidade bloqueada / Vladimir Safatle.
- Vitória : Universidade Federal do Espírito Santo, Núcleo de Educação
Aberta e a Distância, 2010.
FREUD, Sigmund . Psicologia das massas e análise do eu.
http://www.filpsi.neaad.ufes.br/moodle/
www.sedu.es.gov.com.br
Parabéns pela escolha do tema do artigo , você está aplicando suas aprendizagens em sua prática cotidiana.
ResponderExcluirEstou satisfeita com sua participação no grupo e principalmente por sua interação nas discussões.
Att
Adriana