terça-feira, 26 de abril de 2011

FREUD COMO TEÓRICO DA MODERNIDADE BLOQUEADA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA E PSICANÁLISE


FREUD COMO TEÓRICO DA MODERNIDADE BLOQUEADA

Joelma Abreu Silva Fagundes
Estudante do curso de Especialização
em Filosofia e Psicanálise pela
Universidade Federal do Espírito Santo.


RESUMO:
O presente trabalho pretende contribuir com os estudos do curso de especialização Filosofia e Psicanálise na disciplina Freud como teórico da modernidade bloqueada, ofertado pelo NEAAD/UFES, na modalidade semipresencial com o objetivo de qualificar profissionais para exercerem a atividade de pesquisa e ensino na linha de pesquisa de 'Filosofia e Psicanálise'.
Vimos através dos estudos, que Freud nos permite fazer um reflexão crítica sobre a modernidade levando em conta aspectos da vida psíquica de sujeitos formados e socializados no interior das sociedades liberais. Destaca que não podemos levar em consideração que os problemas do comportamento social vão reduzir devido as questões ligadas à psicologia do sujeito, mas que algumas situações sociais podem ser explicadas de acordo com a disposição dos sujeitos de adotar certos tipos de condutas.
No livro “O Mal Estar na Civilização” Freud aborda a discussão da repressão que é imposta pela sociedade. Dessa forma, cada indivíduo está exposto a uma espécie de policiamento, e essa alienação diante das regras inibe o desenvolvimento do ser humano. Logo, o instinto humano é, naturalmente, agressivo, ao se libertar desse sistema repressivo, tende a destruir o meio em que se vive. Freud, ao usar os termos instinto e pulsão, busca diferenciar os homens dos animais, enfatiza a peculiaridade da intermediação simbólica do “instinto” humano. Humano é produto do processo civilizatório é mais fácil pensar que o desenvolvimento humano é fruto da repressão. Por isso Freud afirma que o homem é uma perversão, um desvio da natureza. A agressividade é algo básico na natureza animal e, nos homens, ela assume outras faces e, em alguns casos, faces terríveis que não encontramos no mundo animal.
O desenvolvimento do indivíduo, bem como da civilização da qual faz parte somente são possíveis, a partir do controle das pressões impostas ao homem.
A vida de cada um é regida basicamente por dois princípios antagônicos: o princípio do prazer e o da realidade, vida e morte, respectivamente. Ao passo que o instinto de vida trabalha em prol da aproximação do indivíduo com a vida comunitária, o de morte age de forma oposta, ou seja, contra a civilização.
Ainda em “O Mal Estar da Civilização”, Freud afirma que o fato da cultura produzir um mal-estar nos seres humanos, visto que existe um antagonismo instransponível entre as exigências da pulsão e as da civilização. Assim, para o bem da sociedade o indivíduo é sacrificado, para que a civilização possa se desenvolver. O homem tem que pagar o preço da renúncia da satisfação pulsional (a vida sexual do homem e sua agressividade são severamente prejudicadas).

Em Tótem e tabu Freud aborda o complexo de Édipo, o mito do pai primeva, o totemismo e o incesto como o grande tabu. Os temas citados estão sempre relacionados a um contexto social, visto que, todas essas abordagens, se remetem a vida do homem na sociedade, seja ela na família ou no grupo no qual está inserido.
Freud ilustra sua obra com as tribos primitivas da Austrália, onde prevalecia o sistema totêmico que possuía a figura do líder (pai primeva) como regência de atitudes e atos da tribo, sistema este, que abominava de forma rigorosa o incesto, a ponto de se tornar uma forma de “organização social”. A característica do sistema totêmico é a não relação sexual entre pessoa do mesmo totem, qualificando assim a isogamia.
Dentro de uma análise freudiana, as escolhas sexuais são desde o princípio incestuosas, iniciando-se na infância através do complexo de Édipo, no qual, a criança alude o amor filial com o amor sexual destinado aos pais.
Podemos afirmar, de acordo com o texto, que o tabu constitui na proibição de algo desejado, e dá dois sentidos contrários para definir tabu, que são: o sagrado e impuro. Punindo desta forma, todos os membros da tribo que ousam quebrar o tabu. Visto que, ele existe nos clãs, como código de lei naturalmente criado, para que seja mantida a ordem, sendo que estes vão surgindo de acordo com a necessidade.
Segundo Freud, a natureza associal das neuroses tem sua origem genética em seu propósito mais fundamental, que é fugir de uma realidade insatisfatória para um mundo mais agradável de fantasia. O mundo real, que é assim evitado pelos neuróticos, acha-se sob a influência da sociedade humana e da instituição coletivamente criadas por ela. Voltar as costas à realidade, é ao mesmo tempo, afastar-se da comunidade dos homens. Sendo assim, a proximidade entre tabu e neurose está ligada a fuga da realidade para manter condutas ditas “normais” para sobrevivência na sociedade (e no clã). Ainda na visão do autor o tabu caracteriza-se em: o animismo, é o termo usado para indicar a teoria do caráter vivo de coisas que nos parecem serem objetos inanimados; a magia, tem de servir aos mais variados propósitos, ele deve submeter os fenômenos naturais a vontade do homem; a onipotência de pensamentos, que é a supervalorização dos desejos, enaltecendo as pulsões sexuais, associada com as característica do narcisismo, criando um ser mágico, que por sua vez, é desfeito, voltando-se para a realidade quando posiciona-se em fatos reais, deixando todas as características supracitadas para voltar-se ao mundo real.
Sendo assim, o totem espelha modelos sociais no que se refere às regras e normas, pois sua organização basicamente se origina através do respeito e proteção entre os membros do clã. Daí surge à necessidade e a exigência de se respeitar os tabus gerados dentro do sistema social (clã).
O totemismo valoriza a figura do pai, que por sua vez, é invejado pelos outros homens do clã, prevalecendo à ambivalência emocional, fazendo com que seus filhos se voltem contra ele a ponto de matá-lo, com a intenção de desfazer o poder gerado por ele, porém, sua figura ganhou mais poder após a morte, visto que os filhos sentiram-se culpados por matar o pai que amavam.
O totem se destaca como a figura de poder do clã, e pode ser visto como um objeto, visto que, com a morte do pai primevo, sua figura foi substituída, e sua representação passou a ser em forma de animal. E quando essa figura de poder ameaçava desaparecer, era sacrificado um animal totêmico como forma de manter viva a figura do pai primevo, firmando a importância do controle social que seria o controle exercido sobre os membr
os do clã.


Referências Bibliográficas:

FREUD, Sigmund; O Mal estar na civilização. 1ª Edição, 1997.

FREUD, Sigmund; Totem e tabu, Frankfurt, Fischer, 1999.

SAFATLE, Vladimir; Freud como teórico da modernidade bloqueada, Vitória, Universidade Federal do Espírito Santo, Núcleo de Educação Aberta e a Distância, 2010.