terça-feira, 10 de maio de 2011

Versão Final do Wiki

Universidade Federal do Espírito Santo
Núcleo de Educação Aberta e à Distância
Universidade Aberta do Brasil – Polo Itapemirim-ES
Curso de Especialização em Filosofia e Psicanálise
Disciplina:Angústia em Filosofia e Psicanálise


Angústia e sua relação com ansiedade

A angústia é um dos conceitos mais importantes da psicanálise e desempenha um papel preponderante tanto em relação ao desenvolvimento desta e possui significado central na teoria Lacaniana das neuroses e psicoses e dos tratamentos desses estados patológicos.
Em seu projeto para uma psicologia cientifica, 1895 Freud fala que a neurose de angústia teria sua etiologia na má ou não utilização da libido, que assim, se transformaria em angústia de uma forma direta.
Nesse trabalho, Freud aborda a angústia procurando nela uma explicação para o recalcamento, é afeto (affect) ai é a reprodução da vivência desagradável. Os estados traumáticos – estimulação excessiva e desamparo – se inscrevem de tal forma que deixam uma tendência a serem revividos, a reprodução da dor que então levaria a uma repulsa do objeto, o que levaria ao que Freud chama de defesa primária ou recalmento.
Em relação ao que diz respeito à definição de angústia segundo Lacan é aquilo que engana, porém estudos demonstram que é um distúrbio com desequilíbrio e deve receber tratamento médico. Tanto a psicologia e a psicanálise estudam constantemente as causas da angústia, para Freud a angústia pode ser uma resposta apropriada e relacionada a uma pressão interna ou externa, Freud trabalha com pontos cegos que a ciência não pode explicar que estão armazenados em nossa consciência, como: desvio de personalidade, racionalidade e situações de angústia ou ansiedade irredutíveis que cercam o dia-a-dia.
Para o pensador Heidegger, na angústia existe a origem da liberdade. Elucida que esta é oriunda da base existencial do homem, esta se concentra em seu passado e seu futuro, estes últimos acabam sempre interrompidos pela experiência inevitável pela qual, todos terão que passar: morte.
Podemos perceber que a constituição do sujeito esta diretamente ligada à questão da angústia. Assim é que, a construção da identidade atribui a angústia um caráter existencial.
Considerando-se o conceito angustia e ansiedade, é importante fazer uma relação entre angustia e o transtorno do pânico bem como o tratamento de uma pessoa com este mal.
Segundo Dorsch 2010, o termo angústia tem origem no latim e tende a ressaltar um estado de vivência corporal e psíquica de estreiteza, de aperto, enquanto ansiedade conotaria um estado de inquietação e de manifestações fisiológicas associadas. Nos dois casos o objeto é a realidade externa como um todo, uma vivência e não um objeto isolado e materializado (e por isso não parece procedente a colocação corriqueira de que a angústia é um medo sem objeto), que gera um estado de expectativa e de incerteza. O medo se refere a um objeto determinado, tido pelo sujeito como perigoso e ameaçador.
Nasio 1999 faz uma revisão sobre as diferenças entre angústia e ansiedade, ressaltando o caráter estático, até mesmo paralisado, a sensação de opressão principalmente pré-cordial, mas visceral de uma forma geral, da primeira em contraposição à tendência ao movimento e à predominância de manifestações psíquicas na segunda. Sugere que se classifiquem os quadros cuja manifestação predominante seja angústia ou a ansiedade sob o nome de Timopatia Ansiosa, ressaltando sua pertinência ao grupo dos transtornos da afetividade, de origem endógena.
De forma geral o termo ansiedade era usado na literatura para se referir a um estado afetivo crônico, desagradável, muitas vezes ligado à melancolia evolutiva, caracterizado por certo grau de antecipação do futuro e de inquietação. Por outro lado o termo angústia se referia a uma sensação mais visceral, que tendia a ocorrer de uma forma aguda e muitas vezes aproximada ao medo.
O Transtorno do Pânico, ou Neurose de Angústia, é caracterizado pela eclosão de crises espontâneas de ansiedade, de início de súbito, acompanhado de uma série de sintomas somáticos. A descrição de Freud de 1895 permanece atual, quase inalterada se comparada com os critérios modernos: 1. irritabilidade geral; 2. espera ansiosa; 3. surgimento abrupto de angústia, em forma de crise não associada a qualquer idéia, ou associada a idéia de morte ou loucura eminente; 4. vários ou alguns de uma lista de sintomas que inclui entre outros: palpitações, desconforto pré-cordial, sudorese, tremores, vertigens, diarréias, parestesias etc; 5. pavor noturno, acompanhado de angústia, dispnéia e sudorese (crises noturnas de angústia); 6. vertigem ou tontura; 7. fobias (incluindo agorafobia); 8. náuseas e mal estar; 9. parestesias; 10. Os sintomas podem se manifestar de forma crônica, com menor intensidade de angústia que nas formas agudas. Normalmente atingem sua intensidade máxima em segundos ou minutos, regredindo normalmente em até 10 minutos. Geralmente os pacientes descrevem um estado pós crise de intensa fraqueza, principalmente nos membros inferiores e sonolência, sendo que muitos podem dormir até horas após as crises. (NASIO 1999).
Se não tratadas adequadamente as crises tendem a se repetir, alternando períodos de normalidade, ou permanecendo uma ansiedade residual entre as crises. Muitos medicamentos são medicados com tranqüilizante tipo benzodiazepínicos, que aliviam a ansiedade entre as crises, mas só umas pequenas porcentagens dos pacientes melhoram a crise em si, como conseqüência alguns indivíduos desenvolvem abuso de tranqüilizantes ou mesmo de álcool como visto em nosso meio por GENTIL 1986.
Sem tratamento a evolução é variável, com flutuações de intensidade, com aumento de mortalidade por suicídio e afecções cardiovasculares, se bem que normalmente não apresentam ideação suicida nem prevalência maior de doenças cardíacas. Isso talvez se dê por um maior risco para depressão e pelas repercussões cardíacas da via sedentária que adotam uma vez iniciado o quadro.
As fobias são, primeiramente, sintomas que podem surgir no curso de qualquer afecção psíquica. A fobia como sintoma é definido por uma forma de ligação entre a angústia e o objeto. Talvez a discussão mais relevante aqui seja a respeito da distinção entre as fobias da Neurose de Angústia e as fobias da Neurose fóbica. O que a Psicanálise propões de maneira geral para os diversos quadros psicopatológicos é um modelo teórico de psicogênese. Não se trata de uma negação do orgânico, mas seu enfoque teórico tanto em Freud quanto nos autores que o seguiram é outro. Isto significa tratar também da terapêutica em um outro nível.
No caso específico das Neuroses Atuais e da Neurose de Angústia em particular, Freud negou a existência de mecanismos psíquicos envolvidos na sua gênese, afastando a possibilidade de intervenção pelo método psicanalítico. (NASIO 1999)
O que alguns autores psicanalíticos têm ressaltado, sem fazer alusão ao biológico, já que este não é o campo de investigação teórica, nem de atuação terapêutica da Psicanálise, é que, via da regra, tanto o conflito psíquico inconsciente quanto os sintomas atuais têm importância vital na compreensão do quadro e no desenvolvimento da terapêutica.
Em termos práticos a questão seria poder abordar o paciente com Neurose de Angústia, do ponto de vista psicanalítico, com o intuito de esclarecer as relações individuais que o sujeito faz, inconscientemente, de seus sintomas com outras estruturas de funcionamento e com experiências presentes e passadas que se encontre em conexão com o Reprimido e com a dinâmica do desejo.
A relação terapêutica com esses pacientes costuma ser difícil. No início do tratamento costumam apresentar mais queixas que outros, centrando o discurso nas suas crises de angústia.
Antes de curar a doença o analista terá de se preocupar em restabelecer uma relação de objeto que possibilite a reconstrução do Ego. Deverá ser inicialmente um auxiliar na passagem do mundo antes das palavras - ou de representação de coisas - para o mundo das palavras - ou representação de palavras, i.e., de simbolizações. A vivência de morte descrita por esses pacientes se encontra ligada a uma existência visceral, a um período em que o indivíduo ainda não encontrara um nome para substituí-la.
O tratamento e a cura se fazem, por isso, em dois tempos. Inicialmente a análise funciona como um órgão de para-excitação da angústia, nos moldes da mãe nas primeiras etapas do desenvolvimento infantil. Tem-se que entender que as queixas e os sintomas nessa fase é a forma pela qual o doente tenta resolver a angústia. O analista se fará presente através de suas palavras de compreensão do sofrimento do Ego, sem, no entanto aderir às angústias exteriorizadas pelo paciente.
Freqüentemente, na clínica se aflige, manifestam-se como sentimentos - desenvolvimentos da imaginarização do afeto. Alguns deles são os amores, o ódio, a alegria, a tristeza e aqueles que expressam de maneira patética a indefensa do sujeito perante o Outro, como são o medo, o temor, o terror, o pânico.
Segundo GENTIL 1986, o fim da análise não significa o fim da angústia para o sujeito, senão valer-se de sua alerta para “dialectizar” o Outro. Na espreita das análises standard parece ser um dos objetivos extinguir a angústia. Através da elaboração dos lutos mais primários que na transferência aludem à separação do analista, transmudado em seio materno idealizado. De modo tal que os efeitos de emergência do sujeito se resumem num remendo da imaginarização.
A angústia será sempre nossa eterna companheira , por mais que dissimulemos, neguemos e abominemos sua existência, estamos cônscios de que o processo de crescimento humano é continuo e implica, invariavelmente, em angústia.
Assim, fica subentendido que os casos mal resolvidos do passado e a ansiedade pelo futuro influenciaram a vida das pessoas causando-lhes grande angústia que, por sua vez, interfere em sua qualidade de vida, já que ao invés de vivenciar o que o hoje proporciona.
Sendo assim, o sujeito fica preso as atividades irrealizáveis e o seu hoje se tornam limitado e pouco agradável.


Referências Bibliográficas
GENTIL, V. Mecanismos de Ação de Drogas Antipânico.J. Bras. Psiq. 1986.
NASIO, Juan David. O prazer de Ler Freud. Rio de Janeiro, Editora: Jorge Zahar, 1999.
DORSCH. Dicionário de Psicologia. Petrópolis RJ, Editora Vozes, 2001.
http://artigos.psicologado.com/abordagens/psicanalise/a-teoria-da-angustia-na-psicanalise

terça-feira, 26 de abril de 2011

FREUD COMO TEÓRICO DA MODERNIDADE BLOQUEADA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA E PSICANÁLISE


FREUD COMO TEÓRICO DA MODERNIDADE BLOQUEADA

Joelma Abreu Silva Fagundes
Estudante do curso de Especialização
em Filosofia e Psicanálise pela
Universidade Federal do Espírito Santo.


RESUMO:
O presente trabalho pretende contribuir com os estudos do curso de especialização Filosofia e Psicanálise na disciplina Freud como teórico da modernidade bloqueada, ofertado pelo NEAAD/UFES, na modalidade semipresencial com o objetivo de qualificar profissionais para exercerem a atividade de pesquisa e ensino na linha de pesquisa de 'Filosofia e Psicanálise'.
Vimos através dos estudos, que Freud nos permite fazer um reflexão crítica sobre a modernidade levando em conta aspectos da vida psíquica de sujeitos formados e socializados no interior das sociedades liberais. Destaca que não podemos levar em consideração que os problemas do comportamento social vão reduzir devido as questões ligadas à psicologia do sujeito, mas que algumas situações sociais podem ser explicadas de acordo com a disposição dos sujeitos de adotar certos tipos de condutas.
No livro “O Mal Estar na Civilização” Freud aborda a discussão da repressão que é imposta pela sociedade. Dessa forma, cada indivíduo está exposto a uma espécie de policiamento, e essa alienação diante das regras inibe o desenvolvimento do ser humano. Logo, o instinto humano é, naturalmente, agressivo, ao se libertar desse sistema repressivo, tende a destruir o meio em que se vive. Freud, ao usar os termos instinto e pulsão, busca diferenciar os homens dos animais, enfatiza a peculiaridade da intermediação simbólica do “instinto” humano. Humano é produto do processo civilizatório é mais fácil pensar que o desenvolvimento humano é fruto da repressão. Por isso Freud afirma que o homem é uma perversão, um desvio da natureza. A agressividade é algo básico na natureza animal e, nos homens, ela assume outras faces e, em alguns casos, faces terríveis que não encontramos no mundo animal.
O desenvolvimento do indivíduo, bem como da civilização da qual faz parte somente são possíveis, a partir do controle das pressões impostas ao homem.
A vida de cada um é regida basicamente por dois princípios antagônicos: o princípio do prazer e o da realidade, vida e morte, respectivamente. Ao passo que o instinto de vida trabalha em prol da aproximação do indivíduo com a vida comunitária, o de morte age de forma oposta, ou seja, contra a civilização.
Ainda em “O Mal Estar da Civilização”, Freud afirma que o fato da cultura produzir um mal-estar nos seres humanos, visto que existe um antagonismo instransponível entre as exigências da pulsão e as da civilização. Assim, para o bem da sociedade o indivíduo é sacrificado, para que a civilização possa se desenvolver. O homem tem que pagar o preço da renúncia da satisfação pulsional (a vida sexual do homem e sua agressividade são severamente prejudicadas).

Em Tótem e tabu Freud aborda o complexo de Édipo, o mito do pai primeva, o totemismo e o incesto como o grande tabu. Os temas citados estão sempre relacionados a um contexto social, visto que, todas essas abordagens, se remetem a vida do homem na sociedade, seja ela na família ou no grupo no qual está inserido.
Freud ilustra sua obra com as tribos primitivas da Austrália, onde prevalecia o sistema totêmico que possuía a figura do líder (pai primeva) como regência de atitudes e atos da tribo, sistema este, que abominava de forma rigorosa o incesto, a ponto de se tornar uma forma de “organização social”. A característica do sistema totêmico é a não relação sexual entre pessoa do mesmo totem, qualificando assim a isogamia.
Dentro de uma análise freudiana, as escolhas sexuais são desde o princípio incestuosas, iniciando-se na infância através do complexo de Édipo, no qual, a criança alude o amor filial com o amor sexual destinado aos pais.
Podemos afirmar, de acordo com o texto, que o tabu constitui na proibição de algo desejado, e dá dois sentidos contrários para definir tabu, que são: o sagrado e impuro. Punindo desta forma, todos os membros da tribo que ousam quebrar o tabu. Visto que, ele existe nos clãs, como código de lei naturalmente criado, para que seja mantida a ordem, sendo que estes vão surgindo de acordo com a necessidade.
Segundo Freud, a natureza associal das neuroses tem sua origem genética em seu propósito mais fundamental, que é fugir de uma realidade insatisfatória para um mundo mais agradável de fantasia. O mundo real, que é assim evitado pelos neuróticos, acha-se sob a influência da sociedade humana e da instituição coletivamente criadas por ela. Voltar as costas à realidade, é ao mesmo tempo, afastar-se da comunidade dos homens. Sendo assim, a proximidade entre tabu e neurose está ligada a fuga da realidade para manter condutas ditas “normais” para sobrevivência na sociedade (e no clã). Ainda na visão do autor o tabu caracteriza-se em: o animismo, é o termo usado para indicar a teoria do caráter vivo de coisas que nos parecem serem objetos inanimados; a magia, tem de servir aos mais variados propósitos, ele deve submeter os fenômenos naturais a vontade do homem; a onipotência de pensamentos, que é a supervalorização dos desejos, enaltecendo as pulsões sexuais, associada com as característica do narcisismo, criando um ser mágico, que por sua vez, é desfeito, voltando-se para a realidade quando posiciona-se em fatos reais, deixando todas as características supracitadas para voltar-se ao mundo real.
Sendo assim, o totem espelha modelos sociais no que se refere às regras e normas, pois sua organização basicamente se origina através do respeito e proteção entre os membros do clã. Daí surge à necessidade e a exigência de se respeitar os tabus gerados dentro do sistema social (clã).
O totemismo valoriza a figura do pai, que por sua vez, é invejado pelos outros homens do clã, prevalecendo à ambivalência emocional, fazendo com que seus filhos se voltem contra ele a ponto de matá-lo, com a intenção de desfazer o poder gerado por ele, porém, sua figura ganhou mais poder após a morte, visto que os filhos sentiram-se culpados por matar o pai que amavam.
O totem se destaca como a figura de poder do clã, e pode ser visto como um objeto, visto que, com a morte do pai primevo, sua figura foi substituída, e sua representação passou a ser em forma de animal. E quando essa figura de poder ameaçava desaparecer, era sacrificado um animal totêmico como forma de manter viva a figura do pai primevo, firmando a importância do controle social que seria o controle exercido sobre os membr
os do clã.


Referências Bibliográficas:

FREUD, Sigmund; O Mal estar na civilização. 1ª Edição, 1997.

FREUD, Sigmund; Totem e tabu, Frankfurt, Fischer, 1999.

SAFATLE, Vladimir; Freud como teórico da modernidade bloqueada, Vitória, Universidade Federal do Espírito Santo, Núcleo de Educação Aberta e a Distância, 2010.